quinta-feira, 30 de julho de 2015

Técnicos do Estado orientam passageiros de rotas aéreas utilizadas por traficantes de pessoas

Na entrada do salão de embarque do aeroporto, passageiros receberam material sobre o tráfico de pessoas. Foto: Ruan Alves


Em andamento há cinco dias, a campanha Coração Azul no Amapá, que visa disseminar informações preventivas contra o comércio ilegal de seres humanos, chegou até o Aeroporto Internacional Alberto Alcolumbre, em Macapá, na tarde desta quarta-feira, 29.
Desta vez, o foco das ações foram os passageiros de voos mapeados em estudos internacionais como rotas utilizadas pelo tráfico de pessoas. As linhas aéreas que fazem o trecho Macapá/Belém/Caiena e Macapá/Belém/Suriname constam em um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) como caminhos escolhidos pelos criminosos para levar as vítimas às Guianas Francesa e Holandesa – onde, em geral, mulheres aliciadas em vários estados brasileiros são submetidas à exploração sexual e casamentos estrangeiros serviçais.
Assistentes sociais, psicólogas, advogadas e pedagogas do Centro de Atendimento à Mulher e à Família (Camuf) distribuíram panfletos, cartilhas e o passaporte de enfrentamento ao tráfico de pessoas. O material foi elaborado pelo Ministério da Justiça, que coordena a campanha em todo o país. As técnicas também dialogaram com o público para passar orientações de como identificar e evitar a abordagem dos aliciadores, e como ajudar pessoas em situação de tráfico.
A professora macapaense Damaris Barbosa, que aguardava a chegada de sua filha, estudante de uma universidade da capital paulista, pôde tirar dúvidas com a equipe do Camuf. "A pessoa deve viajar bem informada, comunicar e deixar contatos com amigos e parentes, desconfiar de propostas de emprego que caem do céu, não repassar a documentação pessoal, como o passaporte, para outras pessoas, principalmente estranhos oferecendo ajuda, desconfiar desse tipo de pessoa. Tudo isto foi explicado por elas [técnicas do Camuf]. Achei excelente e muito importante a campanha", opinou a professora.
Ela revelou que já teve um parente assediado por traficantes humanos no aeroporto de Guarulhos (SP). "Um homem com boa oratória, e bem vestido, tentou se aproximar e fez proposta de emprego a minha cunhada. Mas, felizmente, ela desconfiou. Também escutamos aqui, em Macapá, muitas histórias de mulheres amapaenses que vão para Caiena tentar uma vida melhor, mas acabam sendo prostituídas", contou Damaris Barbosa.
O relato da professora corroborou com a experiência de mais de dez anos de enfrentamento ao tráfico de pessoas da coordenadora do Camuf, Patrícia Palheta. Ela lembrou de uma viagem sigilosa para Paramaribo, capital do Suriname, ocorrida cinco anos atrás, que tinha o objetivo de levantar dados sobre esta problemática na região fronteiriça do Amapá. Segundo Patrícia Palheta, o relatório apontou um alto índice de escravidão sexual de brasileiras no território holandês. Ela revelou que, durante uma das visitas a uma casa noturna, algumas mulheres chegavam a ficar expostas como mercadorias em vitrines. De acordo com coordenadora, a legislação de Suriname quanto à entrada e saída do território é um atrativo para os traficantes de humanos.
Lá [em Suriname] não é exigido visto para entrar no país, basta apenas a apresentação do passaporte. O potencial de tráfico dessa rota Macapá/Belém/Suriname foi um forte apelo para escolhermos fazer esta ação aqui no aeroporto. O Amapá é uma região de fronteira, por isso, as pessoas precisam estar em alerta, e isto significa ter acesso à informação de como prevenir esta prática", ponderou a coordenadora do Camuf.
Pela manhã de quarta-feira, a mesma ação foi promovida no Terminal Rodoviário de Macapá, no bairro São Lázaro, por equipes do Centro de Referência em Atendimento à Mulher e do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP), da Secretaria de Estado da Justiça e Segurança Pública do Amapá (Sejusp). O local é ponto de partida e chegada de pessoas que transitam na fronteira com a Guiana Francesa, no município de Oiapoque.

Programação
A campanha continua nesta quinta-feira, 30 de julho – data instituída pela ONU como Dia Mundial de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas –, às 17h, com ações na Feira do Produtor do bairro Buritizal, zona sul de Macapá. Na sexta-feira, 31, ocorre o encerramento da programação, às 19h, no meio do mundo, onde o monumento Marco Zero do Equador será iluminado de azul – uma referência à adesão do Amapá à campanha mundial.
Fonte: Agência Amapá

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