Na entrada do salão de embarque do aeroporto, passageiros receberam material sobre o tráfico de pessoas. Foto: Ruan Alves |
Em
andamento há cinco dias, a campanha Coração Azul no Amapá, que visa disseminar
informações preventivas contra o comércio ilegal de seres humanos, chegou até o
Aeroporto Internacional Alberto Alcolumbre, em Macapá, na tarde desta
quarta-feira, 29.
Desta vez,
o foco das ações foram os passageiros de voos mapeados em estudos
internacionais como rotas utilizadas pelo tráfico de pessoas. As linhas aéreas
que fazem o trecho Macapá/Belém/Caiena e Macapá/Belém/Suriname constam em um
relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) como caminhos escolhidos pelos
criminosos para levar as vítimas às Guianas Francesa e Holandesa – onde, em
geral, mulheres aliciadas em vários estados brasileiros são submetidas à
exploração sexual e casamentos estrangeiros serviçais.
Assistentes sociais, psicólogas, advogadas e pedagogas do Centro de
Atendimento à Mulher e à Família (Camuf) distribuíram panfletos, cartilhas e o
passaporte de enfrentamento ao tráfico de pessoas. O material foi elaborado
pelo Ministério da Justiça, que coordena a campanha em todo o país. As técnicas
também dialogaram com o público para passar orientações de como identificar e
evitar a abordagem dos aliciadores, e como ajudar pessoas em situação de
tráfico.
A professora macapaense Damaris Barbosa, que aguardava a chegada de sua
filha, estudante de uma universidade da capital paulista, pôde tirar dúvidas
com a equipe do Camuf. "A pessoa deve viajar bem informada, comunicar e
deixar contatos com amigos e parentes, desconfiar de propostas de emprego que
caem do céu, não repassar a documentação pessoal, como o passaporte, para
outras pessoas, principalmente estranhos oferecendo ajuda, desconfiar desse
tipo de pessoa. Tudo isto foi explicado por elas [técnicas do Camuf]. Achei
excelente e muito importante a campanha", opinou a professora.
Ela revelou que já teve um parente assediado por traficantes humanos no
aeroporto de Guarulhos (SP). "Um homem com boa oratória, e bem vestido,
tentou se aproximar e fez proposta de emprego a minha cunhada. Mas, felizmente,
ela desconfiou. Também escutamos aqui, em Macapá, muitas histórias de mulheres
amapaenses que vão para Caiena tentar uma vida melhor, mas acabam sendo
prostituídas", contou Damaris Barbosa.
O relato da professora corroborou com a experiência de mais de dez anos
de enfrentamento ao tráfico de pessoas da coordenadora do Camuf, Patrícia
Palheta. Ela lembrou de uma viagem sigilosa para Paramaribo, capital do
Suriname, ocorrida cinco anos atrás, que tinha o objetivo de levantar dados
sobre esta problemática na região fronteiriça do Amapá. Segundo Patrícia
Palheta, o relatório apontou um alto índice de escravidão sexual de brasileiras
no território holandês. Ela revelou que, durante uma das visitas a uma casa
noturna, algumas mulheres chegavam a ficar expostas como mercadorias em
vitrines. De acordo com coordenadora, a legislação de Suriname quanto à entrada
e saída do território é um atrativo para os traficantes de humanos.
Lá [em Suriname] não é exigido visto para entrar no país, basta apenas a
apresentação do passaporte. O potencial de tráfico dessa rota
Macapá/Belém/Suriname foi um forte apelo para escolhermos fazer esta ação aqui
no aeroporto. O Amapá é uma região de fronteira, por isso, as pessoas precisam
estar em alerta, e isto significa ter acesso à informação de como prevenir esta
prática", ponderou a coordenadora do Camuf.
Pela manhã de quarta-feira, a mesma ação foi promovida no Terminal
Rodoviário de Macapá, no bairro São Lázaro, por equipes do Centro de Referência
em Atendimento à Mulher e do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas
(NETP), da Secretaria de Estado da Justiça e Segurança Pública do Amapá
(Sejusp). O local é ponto de partida e chegada de pessoas que transitam na
fronteira com a Guiana Francesa, no município de Oiapoque.
Programação
A campanha
continua nesta quinta-feira, 30 de julho – data instituída pela ONU como Dia
Mundial de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas –, às 17h, com ações na Feira do
Produtor do bairro Buritizal, zona sul de Macapá. Na sexta-feira, 31, ocorre o
encerramento da programação, às 19h, no meio do mundo, onde o monumento Marco
Zero do Equador será iluminado de azul – uma referência à adesão do Amapá à
campanha mundial.
Fonte: Agência Amapá
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