Está nos grupos de Whatsapp, nas feiras
de Belém e por todas as redes sociais. A capital paraense se encontra em
polvorosa com os vídeos do "Sampleados". Criada por estudantes de
comunicação, a websérie resgata personagens da cidade e sucessos populares do
brega, tradicional ritmo do Pará, de seu surgimento nos anos 1980 até os dias
de hoje --com as batidas cada vez mais frenéticas do tecnobrega e do
eletromelody.
O revival é tanto que as festas
dedicadas ao "brega saudade", os primeiros sucessos do gênero,
conhecidos também como "brega passadão" e "marcante",
voltaram a lotar. E não espere o tradicional baile da terceira idade. "Não
tem senhorezinhos, nem cabelo branco. Só dá o pessoal de 20 anos", observa
Tonny Brasil, considerado o criador do gênero tecnobrega. Segundo ele,
o flashback tem conseguido, inclusive, bater de frente com a invasão
sertaneja nas rádios de Belém. "Esse sertanejo pop é uma febre por aqui, e
o 'Sampelados' mostra que essa nova geração está de olho novamente na nossa
música."
As mil e uma vertentes do brega servem como tema dos cinco episódios da
série. Em mash-ups produzidos pelo DJ Will Love, da Gang do Eletro, os sucessos
se intercalam no ritmo do eletromelody –a última evolução do ritmo, com batidas
que chegam a 180 bpm - para contar histórias de alto teor sentimental pelas
ruas de Belém -com muito escracho e passinhos, é claro. Já são quase 600 mil
visualizações e a maioria dos acessos vem do próprio Estado.
"Percebi pelos comentários dos vídeos que há uma irresistível volta ao passado. As pessoas comentam: 'Essa música me lembra aquelas noites de farra'", conta o idealizador e diretor Leonardo Augusto, 21 anos. Há quem também elogie com certa vergonha. "As pessoas não assumem que gostam. Já vieram comentar: 'Não gosto de brega, mas adorei o 'Sampleados''. Como isso é possível? Tecnobrega é democrático. Por que o carimbó é cultura e o brega não?", questiona.
Bole rebole
A ideia de "Sampleados" é transportar para o universo musical
os tipos característicos de Belém: Há a varejeira (mulher que dá em cima de
todo o mundo) do Mercado Ver-o-Peso, a barraqueira, o corno, a estudante
apaixonada. Até Leona Vingativa, que se tornou viral no YouTube quando criança,
participa como dançarina. "São histórias do dia a dia. As músicas são
crônicas da periferia", explica Leonardo.
Os próprios artistas da cena cantam e atuam. Conseguem assim visibilidade para o próprio trabalho. "Aqui isso é muito normal. Todo o mundo sabe cantar do começo ao fim, mas não sabe o nome da música nem do cantor", observa Tonny Brasil.
Os próprios artistas da cena cantam e atuam. Conseguem assim visibilidade para o próprio trabalho. "Aqui isso é muito normal. Todo o mundo sabe cantar do começo ao fim, mas não sabe o nome da música nem do cantor", observa Tonny Brasil.
Compositor de uma grande parte das músicas usadas na série, Tonny
costuma passar irreconhecível nos lugares. No quarto episódio da série, ele é o
galã que joga o charme na estudante interpretada pela cantora Thaciane Pantoja . O 'bole rebole' é acompanhado por
"Tic Tic Tac", da banda Amazonas. A despedida é embalada com
"Volte Logo Meu Amor", de Nelsinho Rodrigues e Aninha, versão de
"Making Love Out of Nothing at All", do Air Supply.
Em sua estreia em frente às câmeras, Thaciane ainda não está convencida: "Acho que eu posso melhorar. Sou um pouco tímida." Mas reconhece: "A série tem aberto muitas portas. Vamos tocar no Miss Pará aqui, no Centro de Convenções e Feiras da Amazônia. É só gente culta. E a galera está curtindo esse movimento."
Em sua estreia em frente às câmeras, Thaciane ainda não está convencida: "Acho que eu posso melhorar. Sou um pouco tímida." Mas reconhece: "A série tem aberto muitas portas. Vamos tocar no Miss Pará aqui, no Centro de Convenções e Feiras da Amazônia. É só gente culta. E a galera está curtindo esse movimento."
Vocalista da Batidão do Melody, Thaciane começou a carreira no
eletromelody, mas tem cada vez mais incluído canções antigas no repertório. O
sertanejo é, atualmente, o maior concorrente. "O pessoal aqui é meio
enjoado, gosta de espetáculos, sabe?", explica Tonny Brasil. "E essa
rapaziada do sertanejo pop é uma galera preparada, tem um espetáculo bonito. No
fim nós, artistas, acabamos nos espelhando."
Mesmo na cena mais underground
paraense, Félix Robatto, ex-guitarrista de Gaby Amarantos, tem sido reconhecido
até na hora de comprar açaí na feira. Com o primeiro disco lançado no começo do
ano, Robatto participa do 3° episódio de "Sampleados", cantando por
apenas alguns segundos. Foi o bastante para que uma vendedora o abordasse: "Você
não é aquele rapaz do 'Sampleados'?".
Sem rixas
Sem rixas
Criador da festa
"Quintarrada", Robatto defende que o brega precisa ser mais aceito
até no próprio Pará. "A música está muito midiática, imposta. A
criatividade aqui rola solta, mas o espaço e o investimento nós não vemos. O
sertanejo toca muito aqui. E estamos falando de Belém. No sul do Pará, que não
tem a cara do Pará, toca muito mais. Lá, eles não sabem mais o que é carimbó,
guitarrada. A série traz essa mistura da galera antiga com a nova. O Wanderley
Andrade (do sucesso 'Conquista') é um exemplo. Ele canta tecnobrega pela
primeira vez", compara.
Com quatro episódios divulgados, o
Sampleados tem apenas mais um vídeo para ser lançado. A previsão é que entre no
ar em agosto, com participação de Viviane Batidão, Rebecca Lindsay e Marcos
Maderito, da Gang do Eletro. Leonardo já tem sido cobrado pela segunda
temporada. "Não importa se você é pobre, rico, empregada ou empresário,
essa música sempre esteve próxima da gente aqui. Vamos ver como podemos
continuar esse resgate."
Fonte: Uol música
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